PGR cria força-tarefa para investigar familiares do deputado Hugo Motta
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Em Brasília
13/10/201615h37
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Beto Barata/Folhapress
O deputado Hugo Motta (PMDB-PB)
O procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, criou no último dia 20 de setembro uma força-tarefa para
acompanhar os desdobramentos da operação Desumanidade do Ministério Público
Federal da Paraíba. A Desumanidade
investiga irregularidades e direcionamento do resultado de licitações que
beneficiaram a empresa Soconstrói Construções e Comércio, entre os anos de 2012
e 2013, no município de Patos (PB). Entre os investigados estão ao menos cinco
integrantes da família do deputado Hugo Motta (PMDB).
De acordo com portaria publicada, a PGR autorizou que os procuradores
Djalma Gusmão Feitosa, Tiago Misael de Jesus Martins, lotados na Procuradoria
da cidade de Sousa (PB) e Renan Paes Félix, lotado em Monteiro (PB), oficiem em
conjunto com o procurador da República João Raphael Lima e com o procurador
regional da República Duciran Van Marsen Farena, coordenador dos trabalhos, nos
processos e investigações relacionadas à Desumanidade.
Ex-presidente da CPI da Petrobras, Motta teve sua mãe, Ilanna Motta,
presa em outra investigação, a Veiculação. Por conta da mesma investigação, sua
avó, Chica Motta, foi afastada do cargo de prefeita de Patos. O cunhado de
Motta, José Willian Segundo Madruga, e o atual marido de sua mãe, Renê Caroca,
também foram presos pela Polícia Federal no âmbito da investigação. Nabor
Wanderley, pai de Motta, é apontado como líder do grupo criminoso e seria
destinatário de 10% do valor dos contratos, segundo proposta de delação
premiada dos proprietários da Soconstrói.
De acordo com a investigação, foram encontrados graves indícios de
irregularidades e direcionamento do resultado de licitações que beneficiaram a
empresa Soconstrói Construções e Comércio entre os anos de 2012 e 2013. Ainda
segundo o relatório do MPF, restou provado em diligências realizadas nas obras,
que agentes públicos estavam "diretamente envolvidos com a execução das
obras". Por meio do cruzamento dos sigilos fiscais e bancários da empresa
e dos investigados, o MPF mapeou que os valores oriundos das parcelas pagas
pela Prefeitura à empresa tinham três destinos.

"Observou-se que, após cada parcela recebida pela empreiteira, os
recursos tinham os seguintes destinos: a) Transferências de valores altos para
determinadas pessoas; b) saques de quantias vultosas; e, c) transferências de
valores mais baixos para contas de determinadas pessoas", informa o
relatório de Análise 03/2016 do MPF. Os valores recebidos pela Soconstrói da
Prefeitura de Patos, segundo o MPF, eram imediatamente transferidos para contas
de determinadas pessoas, na mesma data de crédito nas contas da empresa, bem
como sacados com cartão ou em espécie. No entendimento dos investigadores,
"pode-se concluir que as despesas operacionais das obras sob investigação,
não foram pagas diretamente pela empreiteira.
A comprovação de que os valores recebidos pela Soconstrói não
permaneciam sequer um dia em suas contas, aponta o MPF, "corrobora com os
registros das interceptações telefônicas, os quais revelaram que a execução das
obras e a movimentação parte considerável dos recursos públicos estavam sob o
domínio de pessoas não pertencentes ao quadro societário da contratada".
Entre essas pessoas, estão Ilanna Motta e Segundo Madruga, mãe e cunhado do
ex-presidente da CPI da Petrobras.
Para ilustrar esses repasses, o MPF mostra que dos R$ 20 mil repassados
para a Soconstrói no dia 27 de fevereiro de 2014, R$ 14,7 mil foram repassados
para Segundo Madruga. Por sua vez, dos R$ 57,8 mil pagos na 2ª e 3ª parcela do
contrato entre a prefeitura de Patos e a Soconstrói, R$ 5 mil foram tiveram
como destinatário final a mãe de Hugo Motta, Ilanna Motta.
No relatório em que detalha os repasses da empresa contratada pela
Prefeitura cujo destinatário foram as contas da mãe do deputado Hugo Motta, o
MPF também aponta que Ilanna Motta apresentou movimentação financeira em uma
conta no Banco do Brasil "que superou em 97,14% seus rendimentos líquidos
em 2014, declarados à Receita Federal do Brasil".
O MPF ainda aponta que ligações telefônicas interceptadas no âmbito da
operação Desumanidade "revelam que a Sr.ª Ilanna Mota também participou
das atividades ligadas às obras das unidades básicas de saúde" alvo da
investigação.
Delações
O empresário José Aloysio Machado da Costa Júnior, dono da empresa
Soconstrói, apresentou uma proposta de delação premiada ao Ministério Público
Federal da Paraíba, no âmbito da Operação Desumanidade, na qual afirma que 20%
dos valores desviados da construção de Unidades Básicas de Saúde (UBS)
abasteceram a campanha do deputado Hugo Motta (PMDB). Em depoimento gravado em
vídeo e entregue aos investigadores, o empresário declarou que o dinheiro
destinado a Hugo Motta saiu do Contrato 51/2013 que previa a construção de 11
unidades básicas de saúde (UBS) e de uma academia de saúde em Patos. Parte das
obras foi bancada com emendas parlamentares destinadas por Motta.
A procuradoria-geral da República já foi oficiada do conteúdo com
citação ao parlamentar e o conteúdo, bem como a aceitação ou não da proposta,
ficará aos cuidados do procurador-geral da República Rodrigo Janot. Por sua
vez, José Aloysio da Costa Machado Neto, pai de Júnior, afirmou em proposta de
delação premiada que o pai do deputado Hugo Motta (PMDB-PB) recebeu 10% em
propina sobre obra da Prefeitura do município de Patos. Nabor Wanderley da
Nóbrega Filho, pai do peemedebista, é candidato a prefeito do cidade pelo PMDB.
De acordo com o depoimento, a propina saiu de um contrato de terraplanagem de
ruas de Patos.
Nabor era o candidato do grupo político da família Motta à Prefeitura de
Patos nas eleições municipais deste ano. Nabor perdeu a eleição para o candidato
do PSDB na cidade e encerrou o domínio de cerca de 40 anos da família na cidade
de Patos.
Questionado à época, o advogado Solon Benevides, que representa os
integrantes da família Motta, afirmou à reportagem que os fatos não podem ser
objeto de análise pública porque estão sob sigilo. Segundo ele, a prefeita
Chica Motta mandou abrir uma sindicância para apurar as possíveis
irregularidades. "No curso da instrução vamos provar que as acusações não
tem procedência", afirmou Benevides.
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